sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Palhaço



- Você está quente, meu amor. Tá com febre. O termômetro contou pra mamãe que já ta 38,4.
- Fiquei com febre, porque deitei aqui. Nessa parte da cama está muito quente.
- Toma o remédio. Vamos por a compressa.
E assim foi que, com um monte de pano molhado pelo corpo e as bochechas vermelhas, vermelhas, a pequena abriu um sorrisão e com a leveza dos seus quatro anos soltou.
- Olha, mamãe, eu virei um palhaço!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A liberdade da inocência


03/02/2009 as 18h30
Só a inocência de uma criança permite que se invada uma sala de trabalho correndo e imitando um cachorro em pleno expediente. Tudo para abraçar uma velha companheira de brincadeiras.


Simples


Amizade é assim. Simples, leve, feliz.


Persona



O bom da vida. A liberdade de preservar a diferença. A comemoração do singular.

A menina



A menina era homem-aranha.
Bem longe de ser mulher-maravilha, jogou a teia.
Pulou da laje.
Machucou o pé.

Fantasia de criança levada.
São Paulo, 9 de abril de 2009.

Reza

Estava chovendo toda água do mundo. Inhasã e Xangô caprichavam nos raios e trovões. Muita gente pequena e grande sentiu vontade de se esconder e abraçar forte alguém. Ela saiu correndo do trabalho aquele dia. Seria melhor um bote, mas foi de ônibus, metrô, ônibus e mais um tanto de sola de sapato. Chegou à casa ofegante, gritando no portão como de costume: “Filhaaaaaa”. Ninguém veio recebê-la. Foi para o banho frustrada. Minutos depois uma batida conhecida na porta. “Quem é?”, a mãe gritou. “Sua filha!”, respondeu a vozinha. “Deixa eu sentir o seu cheiro...”, exclamou a mãe, abrindo a porta do banheiro enfumaçado.

Conversaram sobre o dia. Comeram um lanche. Vestiram o pijama. Escovaram os dentes e depois, como de costume, o pedido: “Mamãe, conta uma história de verdade?”. Isso significa histórias escritas em livros, não inventadas na hora. A pequena escolheu um e deitaram juntas para aproveitar a fantasia. Em meio ao contexto, a pergunta: “Mamãe como é rezar?”. Ela explicou a seu modo. Reforçou que as pessoas conversam com o papai-do-céu, mas principalmente rezam com suas atitudes. A pequena adormeceu. A mãe ainda ficou um tempo pensando sobre o assunto.


Ciranda da Bailarina, Chico Buarque

A Gata

“Pai a Maya é burra. Ela não sabe voar”. Essa era sua frase todas as noites quando o pai chegava do trabalho. Será que ninguém mais percebia que os gatos saem voando quando a gente menos espera? Ele pensava. Ele já estava começando a se aborrecer com a bichana. Insistiu, insistiu, insistiu, perseguindo um jeito. Até que dormiu e acordou feliz. O dia foi comprido, pois ele estava ansioso esperando pela noite.
“Pai, pai, pai! Ela aprendeu! A Maya voou! Mas agora ela já está dormindo”. Era assim que ele gritava feliz, olhando para baixo, do alto da janela do 16º andar, vendo a Maya dormir lá no térreo.
Alguém disse que os gatos dormem 20 horas por dia. As 4 que Maya passava acordada eram noturnas.



São Paulo, 03 de abril de 2009, no ônibus a caminho do trabalho.